Resumo e comentário

16-01-2011 19:52

 

Resumo e Comentário :

A educação musical foi, ao longo dos tempos, marcada e orientada de acordo com as diversas correntes e modelos que foram surgindo. As diferentes visões foram proporcionando aos professores variadas formas e estratégias para a realização do seu trabalho.  Apesar de todos os métodos e de todas as pedagogias musicais, a educação musical ocupou permanentemente um lugar secundário na educação e formação do Homem.

Para Bennett Reimer só a configuração de uma filosofia para a educação musical permite a sua valorização, aliada à importância da formação do educador musical e à tomada de consciência do valor da profissão por parte dos profissionais que actuam no campo da pedagogia musical. O impacto que a educação musical tem na sociedade está dependente da qualidade da compreensão/entendimento desta actividade profissional e da forma como os educadores actuam. Um outro argumento com que Reimer sustenta a necessidade de uma filosofia para a educação prende-se com o antagonismo entre o “ensino da disciplina e as vivências da mesma fora da escola”, entre “o que é ensinado e o que é compreendido e praticado pelo aluno” (Mendonça, 2009).

Reimer indica assim pontos orientadores para o entendimento da música.

O referencialismo aponta o sentido e o valor da obra no seu exterior, a qualidade da obra está na mensagem que esta é capaz de transmitir. A arte tem uma função social, de formadora de bons cidadãos.

Pelo contrário, o formalismo entende que o sentido da obra está em si mesma, na apreciação e reconhecimento da forma onde as emoções e os sentimentos não têm lugar. É a orientação privilegiada para o ensino virtuoso e o entretenimento das massas.

No entanto, nem o referencialismo nem o formalismo oferecem bases convincentes para uma verdadeira filosofia da educação musical, e surge o expressionismo que reúne o melhor das duas anteriores orientações. Como nos diz Mendonça (2009), “(…) a valorização da externalidade de uma obra musical simultânea à apreciação dos aspectos internos desta obra, seria a premissa desta terceira teoria estética (…)”.

Assim, o expressionismo orienta a educação estética de Reimer onde a audição de obras é o cerne da sua proposta, colocando de parte a performance.

Como nos diz Borges (2007), “(…) o objectivo final da Educação Musical é fazer com que o aluno perceba e reaja, através da percepção estética, com a música (…).”

Para Reimer, o aluno deve ser apresentado á diversidade musical mas não á prática musical activa.

Para David Elliott a performance deve estar no centro da educação musical, no sentido do fazer musical criativo, da música pela música. Segundo Moema Campos (in Mendonça, 2009), “(…)num contexto em que a criatividade é particularidade de grande importância, o professor deverá encorajar os alunos a serem artistas, verdadeiros criadores, aproveitando o seu interesse natural pela música e introduzir a informação apenas quando se fizer necessária (...)”

Elliott diz-nos que devemos ensinar os alunos a encontrar desafios musicais que lhes permitam o contacto com diversas culturas musicais, promovendo uma abordagem multicultural do fenómeno musical que levaria os alunos a perceber que a música “é uma prática humana diversificada local, regional e nacional” (Mendonça, 2009). A educação musical, enquanto prática multicultural não pode esquecer os objectivos de uma educação centrada no ser humano.

Como profissional de educação musical, sinto-me mais próxima da filosofia de David Elliott embora tenha também presente na minha prática lectiva algo de Bennett Reimer

O contexto sócio-económico em que se insere o meu local de trabalho, e as vivências dos meus alunos, levam-me a implementar estratégias que passam pelo ensino-aprendizagem da educação musical activa, onde a prática musical tem um papel primordial. Tento implementar pedagogias em que as aprendizagens surgem da prática e os saberes são construídos por cada um, no respeito pela diversidade cultural. Procuro desenvolver a musicalidade e a criatividade dos alunos tendo como centro de todo o trabalho o “fazer música”, não esquecendo que cada um de nós se desenvolve na interacção com o meio em que está inserido.

Não posso concluir esta reflexão sem acrescentar que por vezes nem sou músico-professor, nem professor-músico, mas apenas o adulto que está ali e poderá de certa maneira ajudar a minorar as situações difíceis destas vidas curtas e complicadas. Uma criança deve desenvolver-se de forma holística e não vale a pena querer fazer música se o mundo daquele aluno está a desabar.

 

Referencias bibliográficas

MENDONÇA, Joêzer de Souza – “Educação Musical como Educação Estética: diálogos e confrontos” in Revista Elevtronica de Musicologia; Volume XII, Março de 2009

BORGES, Gilberto André – “Discutindo Fundamentos da Educação Musical”; Florianópolis, 2007.