Reflexão

04-03-2011 12:34

 

Reflexão

 

“A natureza da performance instrumental e sua avaliação no vestibular em música instrumental e sua avaliação no vestibular em música” de Cecília Cavalieri França, UFMJ

 

Perante a afirmação “Os músicos são expert e não génios” (Sloboda, 1994), e tendo como ponto de partida o artigo referido, senti necessidade de encontrar definições para estes dois termos.

Segundo Sternberg (2000), citado por Grassi (2008), o expert é caracterizado pela extrema habilidade que apresenta no desempenho de tarefas dentro de seu domínio por apresentar uma grande capacidade para organizar e utilizar conhecimentos para resolver problemas.

Os expert possuem padrões rápidos e precisos de resposta a situações de ensino, elaboram representações dos problemas pedagógicos, apresentam mecanismos de auto-regulação e avaliação dinâmica e eficaz, revelam a sua competência pedagógica através da prática progressiva e prolongada no tempo (Rodrigues, 1997).

Um expert é alguém que, pelo estudo profundo e paciente, adquiriu um conhecimento particular acerca de um determinado assunto e tem, portanto, “autoridade” para emitir juízos e opiniões sobre essa matéria.

Podemos dizer que um expert é alguém especializado numa determinada área, neste caso concreto a música, que apresenta domínio de habilidades técnicas conducentes a uma boa performance musical que lhe permitem uma expressividade musical própria. Esta condição de expert é conseguida através do estudo e da persistência na prática musical. Ao contrário do que se pensa, o músico não se torna expert por instinto ou natureza, mas desenvolvendo habilidades e conhecimentos das técnicas, da história e dos padrões que sustentam o seu domínio musical.

Podemos encontrar muitas definições na literatura especializada, mas se recorrermos, em primeiro lugar, ao Dicionário da Língua Portuguesa, observamos que, entre outras definições, o termo Génio define-se como “talento, o dom natural, inato, que caracteriza os maiores artistas ou sábios”. É alguém intelectualmente brilhante, com uma inteligência superior que se afirma por méritos excepcionais, uma pessoa promissora ou dotada de inteligência invulgar que possui uma aptidão natural ou faculdade adquirida.

Para o neuropsicológico Nelson S. Lima, do Instituto da Inteligência, "o génio é aquele que descobre, inventa ou produz algo de novo e de grande significado e impacto para a Humanidade.

Permito-me dizer que os génios são raros, são excepções. Os músicos, esses, são experts e a sua especialidade advém do trabalho, da dedicação, da motivação que sentem por fazerem cada vez mais e melhor.

E o professor?

O professor apresenta-se ao grupo como especialista, que tem os conhecimentos e a experiência que os alunos necessitam para terem sucesso. O seu objectivo é transmitir a informação, as perspectivas analíticas ou os pontos de vista essenciais para que os alunos os atinjam na aula. Os professores-especialistas preocupam-se em transmitir a informação e em garantir que os alunos estejam bem preparados. Esforçam-se para conservar o estatuto de especialista transmitindo conhecimentos detalhados e colocam os alunos em desafio para melhorarem as competências.

A minha visão é diferente desta perspectiva apresentada que encontrei na tradução da 5ª Edição do guia Enseigner à l'Université d'Ottawa: Guide pour les professeurs et les assistants à l'enseignement.

O professor é um especialista na medida em que domina um conjunto de destreza, de técnicas que se julga favorecerem a aprendizagem dos alunos. Mas é também um generalista porque tem que estar preparado para responder a muitas outras solicitações que o contacto com os seus alunos lhe apresenta.

Como diz Leal, “ …o desempenho profissional do professor é, nos conturbados dias que decorrem, palco ou plateia do saber? A resposta do sábio é simples: “Diz-me o que queres aprender e dir-te-ei onde encontrar a informação que procuras”. A resposta do louco seria com certeza outra: “Diz-me o que sabes e eu aprenderei contigo”. Por sua vez, já o professor diria: “Ensina-me, e ambos aprenderemos!”.

O professor precisa ter um pouco de sábio, de louco e de aprendiz e manifestar sempre disponibilidade para a “hetero-aprendizagem”. Só desta forma a classe do professorado sobreviverá. Citando Leal, “… só está em condições de ensinar quem está disponível para permanentemente aprender”.

Referências bibliográficas

LEAL, Fernando C. – Profissão Professor. Sábio, Anjo ou Demónio?, in Revista Iberoamericana de Educación (ISSN: 1681-5653), Disponível em https://www.rieoei.org/deloslectores/783Cortes.PDF acedido em 26 Janeiro 2011.

 

GRASSI, Bernardo - De onde vêm minhas idéias? Estratégias para a delimitação e a resolução de problemas na composição musical, Curitiba, 2008.

RODRIGUES, Fernando E. M. – Universidade do Porto, Faculdade de Desporto, Porto, 2007

Texto traduzido e adaptado da 5ª Edição do guia Enseigner à l'Université d'Ottawa: Guide pour les professeurs et les assistants à l'enseignement. Disponível em

https://www.saea.uottawa.ca/index.php?option=com_content&task=view&id=886&Itemid=9201, acedido em 26 Janeiro 2011.

 

 Ana Maria Silva Ribeiro Coelho – 38377

1.º Ano Mestrado em Educação Musical - Canelas